Por M. M. Philipon, O.P.
Uma das verdades mais importantes na doutrina mística do Carmelo é sem dúvida o mistério da habitação da Santíssima Trindade na alma humana e a certeza de que Deus está presente em nós e que, para encontrá-lo, basta entrarmos no “âmago” deste reino interior, que é o nosso coração. A vida espiritual resume-se toda nisto.
Em seu "Caminho da Perfeição", Santa Teresa d'Ávila nota que Deus não está somente no céu, “mas ainda no mais íntimo de nossa alma, onde cumpre recolhermo-nos, para o procurarmos e descobrirmos". No Castelo Interior, mais um livro de Santa Teresa, essa presença da Santíssima Trindade constitui o ponto culminante de sua mística: as almas chegadas à união transformante vivem habitualmente na companhia das Pessoas Divinas e encontram na Sociedade Trinitária os gozos mais beatíficos da terra.
Para São João da Cruz, esta presença é o ponto de convergência de toda a teologia mística, principalmente dos estados espirituais mais elevados. A tradição do Carmelo permaneceu sempre fiel ao ensino destes dois grandes mestres espirituais. Não raro se encontram nos mosteiros carmelitanos almas cuja vida silenciosa é inteiramente orientada para o mistério trinitário.
Todavia, é preciso reconhecê-lo, Irmã Elisabete da Trindade recebeu uma graça muito especial para viver deste mistério. Deus, que a predestinava à missão de reconduzir as almas ao interior de si mesmas, para aí tomarem consciência das riquezas de seu batismo, fez dela, verdadeiramente, a santa Habitação Divina.
Animada pela verdade deste mistério de fé, sepultou-se no íntimo de si mesma, para aí procurar os seus “Três” , como ela chamava as Pessoas da Santíssima Trindade. Testemunhos daquela época não deixam dúvida alguma sobre este ponto: antes mesmo de entrar no Carmelo, Elisabete já estava “tomada” , em grau excepcional, pelo mistério da habitação divina. Era este o tema de suas confidências íntimas: “A Santíssima Trindade era o seu tudo”.
Sentia-se que ela estava “tomada” pela Santíssima Trindade. Esta expressão de uma testemunha denota bem a passividade de sua alma, sob a ação do Espírito Santo desde as primeiras graças místicas do retiro de 1899. Eis algumas afirmações da Irmã Elizabete: “Mergulhemo-nos nessa Trindade Santa, nesse Deus todo amor. Deixemo-nos transportar para aquelas regiões, onde não há senão Ele, Ele só”. “Deus em mim, eu n'Ele, seja este o meu lema". "Como é suave esta presença de Deus dentro de nós, no santuário íntimo de nossas almas! Aí o encontramos sempre, mesmo que não Lhe sintamos a Presença". "Não o deixemos jamais sozinho. Seja nossa vida uma oração contínua". "Ninguém pode roubar Deus de nós. Ninguém pode sequer nos distrair, d'Aquele que nos tomou e nos fez inteiramente seus.
Irmã Elisabete descobriu o lema da sua vida: "Deus em mim, eu n'Ele".
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