Por Monsenhor Ascânio Brandão.

A tática a seguir na conquista da humildade, nos ensina Santo Tomás de Aquino, dizendo: “O homem chega até a humildade por dois meios:  antes de tudo, pela graça. E em seguida pelos esforços constantes que faz para reprimir, em primeiro lugar, os defeitos exteriores contrários à humildade e extirpá-los. E, em segundo lugar, cortar a raiz oculta do orgulho”.

Donde se conclui que para adquirir a humildade é preciso rezar. E rezar muito.Pedi a Deus a graça da humildade. Seja nossa oração contínua, a mesma de Santo Agostinho, que dizia:"Meu Deus! Que eu Vos conheça e me conheça! Senhor, fazei-me bem humilde, bem pequenino, livrai-me das ilusões perigosas do meu amor próprio!"

Nosso Senhor, nunca deixou de ouvir a oração dos humildes. Confira-se o Evangelho. O Centurião, o Cego de Jericó, Madalena, o leproso, a Cananéia. Humilharam-se, pediram abatidos, aniquilados, e Jesus os cumulou de graças. Habituemo-nos à oração da humildade. Vivamos na atitude do publicano: Senhor, tende compaixão de mim pecador! A São Francisco de Borja perguntou um homem o que devia fazer para se santificar. "Meu amigo", responde o santo, "pense todo dia na sua miséria e se humilhe diante de Deus!" Eis o caminho. Ver-se como miserável, e recorrer à Misericórdia!

Depois da oração, o esforço. Não basta pedir, é preciso lutar. E que combate terrível é o da conquista da humildade!

Lutemos, diz Santo Tomás, para reprimir os defeitos exteriores contra a humildade. Não falar de si mesmo, nem se gabar dos dotes e graças recebidas.Franqueza e sinceridade na confissão de nossas misérias. Evitemos esta humildade falsa, que se humilha para receber elogios. A humildade há de ser discreta, singela. É melhor não dizer nada de si mesmo, nem bem nem mal. Se houver ocasião, antes falar mal que bem de si próprio. Nas palavras, nos gestos, nas atitudes, sejamos reservados. Nada de querer parecer mais do que somos. Evitemos estes modos afetados, ares de gente grande ou rica, atitudes de piedade exagerada e singularidades. Procuremos ser bem comuns, bem como toda gente. As pessoas exóticas, afetadas, singulares,  exageradas na linguagem... meu Deus, como são chatas e ridículas!

E depois, diz Santo Tomás, é preciso cortar a raiz oculta do orgulho. Qual é essa raiz? É o nosso instinto depravado de se exaltar desmesuradamente. Queremos distinção, honraria, o primeiro lugar. Lá bem no fundo de nós está a raiz do orgulho. É preciso cortá-la. O orgulho, como diz Santo Agostinho, não nos engrandece, apenas nos incha. Somos uma bolha de ar. Uma picada de humilhação faz bem, e é necessária, para esvaziá-la de vez em quando.

Quando formos humilhados, diz São Bernardo, transformemos a humilhação em humildade. Quer dizer: aproveitemos a humilhação. Existem aqueles que se irritam com a humilhação, aqueles que a sofrem e aqueles que a aceitam. Os que se irritam são culpados, os que sofrem escapam do pecado, os que aceitam se santificam. Pois vamos aproveitar o tesouro das humilhações para nossa santificação. Que mina de ouro é a humildade!

É preciso ser humilde de coração, sobretudo quando trabalhamos para a glória de Deus. Nos trabalhos apostólicos é imprescindível tomar cuidado com o amor-próprio. Uma grande humildade é necessária e uma grande força para resistir ao encanto que se acha em converter os corações e ganhar a confiança das pessoas convertidas! Façamos nosso apostolado humildemente. A graça é um dom do céu. Somos apenas o instrumento da graça junto de nossos irmãos. Atribuir a nós o bem que fazemos às almas é como negar o tratado da graça. Só a graça pode converter. “Se encontrares, meu amigo, almas não tocadas pela graça de Deus, verás que nada as pode converter. Oh! Como o apóstolo há de ser humilde, se quiser salvar almas! Sem a humildade, seremos vaidosos pregoeiros de nós mesmos e não de Cristo Nosso Senhor. Só a humildade é que converte e salva. O Filho de Deus salvou o mundo pelo aniquilamento e nós o quereríamos salvar com uma vã estima dos homens e falsas honras?

A alma bem humilde é a pérola do Sagrado Coração de Jesus. É tal o poder das almas humildes sobre o Coração de Deus, disse Jesus para a Irmã Benigna, “que uma só alma destas verdadeiramente humildes é mais poderosa para desarmar a minha justiça do que mil pecadores para a provocá-la e armá-la”. Nestes dias de tanto orgulho satânico a perder as almas, sejamos humildes em espírito de reparação pelo orgulho dos homens. Jesus Crucificado seja a nossa grande lição e nosso remédio eficaz na cura de nosso orgulho.


Lutemos contra o nosso terrível amor-próprio. Empreguemos a arma da humildade, e sairemos vencedores. Lembremo-nos de que o Reino do Céu, é dos pequeninos, e dos humildes.