A gente não escolhe o nosso DNA. Ao mesmo tempo em que não parte de nós a opção do nascimento, também não nos foi dada a escolha de onde provir. Neste caso, também foi assim: de repente, veio ao mundo a filha de Elis Regina. Esse é e será um fato para sempre imutável na trajetória da cantora, hoje com 45 anos recém-completados, a quem o PodCália dedica o seu mais novo episódio.
Maria Rita Camargo Mariano surgiu para a cena musical com a genética, a estética e a profética missão do cantar. Sua dor era perceber que, apesar de ter feito tudo o que fez, ainda era a mesma e viveria como seus pais. Apadrinhada por Milton Nascimento – aquele ser mítico sobre quem Elis teria dito que, se Deus cantasse, possuiria aquela voz –, foi somente em 2002 que a até então filha “anônima” daquela que, por muitos e muitas, era considerada a maior cantora do Brasil começou a soltar publicamente a sua voz. E a partir de então ela foi se espalhando: no campo, no canto, no gesto, no sonho e na vida.
O ano de 2003 marcou a estreia de Maria Rita na indústria fonográfica nacional, com um disco de 13 faixas. Em torno dele, havia mídia, mercado e privilégios, mas também havia medo, desconfiança e curiosidade. Maria Rita comprovou que, de fato, tem gente que chega para ficar. E não importa se, quase 20 anos depois, já não cante mais frequentemente na mesma sonoridade rítmica daquele debut – afinal, ela não nasceu no samba, mas o samba nasceu nela. Um belo dia resolveu mudar e fazer tudo o que queria fazer. Maria Rita partiu sem ter planos porque, melhor ainda, é poder voltar quando quer. A gente não escolhe o nosso DNA, mas, às vezes, que bom quando a vida se repete na estação.
*Texto de João Camilo, nosso convidado da semana no PodCália.
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